Missão dos leigos no mundo, hoje: pontos para uma reflexão

Por Francisco Faus

É preciso que os que têm o encargo de dar formação católica saibam assumir a responsabilidade perante a meta que foi lembrada pelo Concílio Vaticano II e recordada com força por João Paulo II: “É hora de propor de novo a todos, com convicção, essa «medida alta» da vida cristã ordinária”.


Nestas linhas não se pretende apresentar uma perspectiva global sobre a missão dos leigos católicos (dos fiéis leigos) no mundo, mas focalizar apenas alguns pontos fundamentais, em relação aos quais é urgente uma forte tomada de consciência – e um redobrar da responsabilidade – quer dos leigos, quer dos sacerdotes e religiosos.

Concretamente, procuraremos ver:

a) como ponto de partida, alguns critérios mais fundamentais da doutrina do Magistério da Igreja sobre a missão específica dos fiéis leigos;

b) depois, as circunstâncias, patentes (mas que nem todos avaliam lucidamente), que fazem com que, no mundo atual, o fiel cumprimento da missão “específica” dos fiéis leigos se torne especialmente urgente;

c) simultaneamente, ao falarmos das duas anteriores, procuraremos chamar a atenção, de modo especial, sobre a responsabilidade dos “formadores” (sacerdotes, professores, catequistas, etc.) nestes terrenos.

Os grifos nas citações de documentos da Igreja foram introduzidos pelo editor, com a intenção de destacar alguns aspectos fundamentais para o tema. Entre colchetes, explicitam-se algumas das expressões empregadas.

I. A MISSÃO ESPECÍFICA DOS LEIGOS

1. A Constituição dogmática Lumen gentium, do Concílio Vaticano II, n. 31, diz:

“Aos leigos compete lt;é específico dos leigosgt;, por vocação própria, buscar o Reino de Deus ocupando-se das coisas temporais e ordenando-as segundo Deus. Vivem no mundo, i. é., no meio de todas e cada uma das atividades e profissões, e nas circunstâncias ordinárias da vida familiar e social, as quais como que tecem a sua existência. Aí os chama Deus a contribuírem, do interior, à maneira de fermento, para a santificação do mundo, através de sua própria função lt;…gt;. A eles, portanto, compete muito especialmente esclarecer e ordenar todas as coisas temporais, com as quais estão intimamente comprometidos, de tal maneira que sempre se realizem segundo o espírito de Cristo, se desenvolvam e louvem o Criador e o Redentor”.

A mesma doutrina é ensinada pelo Magistério da Igreja no Catecismo da Igreja Católica, ns. 898-899 e na Exortação Apostólica Christifideles laici de João Paulo II, ns. 15, 55, etc. (O Catecismo, a Exortação e os demais documentos pontifícios encontram-se à venda em qualquer livraria católica).

2. Como é lógico, também faz parte essencial da missão dos leigos casados – que são a maioria – santificar a vida matrimonial e familiar: “nela – diz a Constituição Lumen gentium, n. 35 – têm os cônjuges a própria vocação para serem, um para o outro e para os filhos, testemunhas da fé e do amor de Cristo”.

3. Naturalmente isso não exclui (pois faz parte da “comunhão orgânica” que é a Igreja) o fato de que, “quando a necessidade ou a utilidade da Igreja o pedir, os pastores podem, segundo as normas estabelecidas pelo direito universal, confiar aos fiéis leigos certos ofícios e certas funções que, embora ligadas ao seu próprio ministério de pastores, não exigem contudo o caráter da Ordem (por exemplo, ministros da Eucaristia, membros do Conselho paroquial, da equipe de Liturgia, catequistas, etc.) lt;…gt;. Todavia, o exercício de semelhante tarefa não transforma o fiel leigo em pastor lt;…gt;. A tarefa que exerce como suplente recebe a sua legitimidade, formal e imediatamente, da delegação oficial que lhe dão os pastores” (Exort. Christifideles laici, n. 23).

Pelo contrário, a missão que compete ao leigo por sua vocação específica não lhe vem de nenhuma delegação por parte da hierarquia eclesiástica, mas lhe vemdiretamente de Deus pelo Batismo e a Crisma (cfr. Lumen Gentium, n. 33, onde se lêem as seguintes palavras: “A este apostolado estão destinados todos pelo próprio Senhor ao receberem o Batismo e a Confirmação”).

II. ASPECTOS ESPECIALMENTE URGENTES DA MISSÃO DOS LEIGOS

Partamos de umas palavras já citadas da Const. Lumen Gentium, que têm um conteúdo teológico denso. Diz-se, no n. 31, que compete aos leigos “esclarecer e ordenar todas as coisas temporais lt;…gt; de tal maneira que sempre se realizemsegundo o espírito de Cristo, se desenvolvam e louvem o Criador e o Redentor”. Aí estão duas linhas de reflexão importantes.

1. Colaboradores de Deus Criador

Lembremos o relato da Criação: O Senhor Deus tomou o homem e o colocou no jardim do Éden, para o cultivar e guardar (Gên 2, 15). Além disso, depois de criar o ser humano – homem e mulher Ele os criou –, Deus os abençoou e lhes disse: “Sede fecundos e multiplicai-vos, enchei a terra e submetei-a” (Gên 1, 27-28). Há, pois, aí como que uma dupla missão no mundo, confiada, delegada por Deus ao homem: afamília e o governo inteligente da terra; duas missões que os leigos realizam como enviados e representantes do Criador, como colaboradores do plano da Criação, e não como se fossem realidades autônomas, independentes da Vontade de Deus, das quais Deus se desentendesse.

a) O homem é, pois, colaborador de Deus, da Trindade, na obra da Criação: ut operaretur, para cultivar a terra, para governá-la (“submetê-la”).

O trabalho, a ciência, a técnica, as descobertas e os avanços tecnológicos, etc., são manifestação da nossa condição de imagem de Deus, da Trindade, chamados por Deus a colaborar na obra da Criação, como cooperadores e continuadores do desígnio criador de Deus. O homem está chamado a trabalhar para desenvolver as inúmeras virtualidades, as incontáveis possibilidades positivas que Deus pôs na sua obra. Por isso, o trabalho, as ciências, a técnica, as pesquisas e avanços, as artes, não são coisas puramente terrenas, mas fazem parte do plano criador, são queridas por Deus, que lhes dá o verdadeiro sentido, e as orienta com a lâmpada da sua santa Lei (Salmo 119, 105) e com a sua Providência.

Da mesma maneira, referindo-se à família, a Exortação Apostólica de João Paulo II Familiaris consortio frisa que “No plano de Deus Criador e Redentor, a família descobre não só a sua «identidade», o que «é», mas também a sua «missão». Voltar ao «princípio» do gesto criativo de Deus é, portanto, uma necessidade para a família, se quiser conhecer-se e realizar-se segundo a verdade interior do seu ser…” (n. 17). A família, “por ser a célula primeira e vital da sociedade” (n. 42), “constitui o lugar nativo e o instrumento mais eficaz da humanização e personalização da sociedade” (n. 43). Por isso, quando a família é desarraigada e independizada do plano de Deus, toda a sociedade se desagrega e desconjunta.

b) Como vemos, estamos perante uma questão grave e enormemente atual: a tendência secularizadora e laicizante de considerar as coisas criadas (desde o corpo humano, a sexualidade, os embriões e fetos, a biologia, a medicina, as diversas técnicas que atuam sobre a matéria viva, até à psicologia, ao direito, à sociologia, etc.), como realidades autônomas, totalmente desvinculadas do Criador, das suas Leis e dos seus planos, e entregues apenas às mãos da racionalidade e da vontade do homem, sendo portanto – conforme essa visão – totalmente independentes da religião, que nelas nem poderia nem deveria interferir.

Por isso, hoje, qualquer tentativa de colocação de princípios religiosos ou simplesmente éticos, baseados na lei divina natural (reconhecida por todas as grandes religiões e as mais nobres filosofias históricas) nesses campos, é considerada pelos detentores do poder, pelos “intelectuais liberais” e pela mídia dominante, um abuso intolerável, uma tentativa de impor “opiniões religiosas particulares”, um obscurantismo, um regresso à Idade Média, etc. (todas essas expressões características do Iluminismo e do Marxismo, como sabe quem lê jornal, estão sendo ressuscitadas na mídia e nos parlamentos).

Chega-se ao ponto de que já não é lícito nem sequer ter “consciência íntima” cristã, mesmo que não se pretenda fazê-la valer na política e na vida pública. É emblemático o caso do famoso intelectual católico Rocco Buttiglione, Ministro italiano de Assuntos Europeus, que foi excluído do Conselho da Europa simplesmente porque, no seu íntimo, como coisa particular sua, de consciência, após ser apertado para que falasse em particular, não como político nem no âmbito do Parlamento ou do Conselho da Europa (pois não queria falar oficialmente), declarou que, no recesso da sua consciência, no íntimo, ele tinha a convicção de que a prática do homossexualismo era um pecado; mas que respeitava as opiniões alheias (bem se penitenciaria ele, dias depois, de ter dito apenas – como ele mesmo reconhecia – “o mínimo do mínimo”). Mas esse mínimo bastou para que fosse expulso do Conselho da Europa, no meio de um estardalhaço de mídia européia e mundial.

c) Essa tendência é evidente e agressiva na atual sociedade materialista e “laicista-militante”. É uma ideologia que está “dogmatizada” e é defendida, com absoluta intransigência, pelo “liberalismo intransigente” (ainda que esta expressão pareça uma contradição em termos, é muito real). O teólogo Juan Luis Lorda, numa entrevista ao website www.zenit.org, refere-se a essa perspectiva materialista e atéia ou agnóstica: “Muitos dos nossos contemporâneos, quando pensam em si mesmos, crêem que são fruto cego das forças naturais, um protozoário evoluído por casualidade lt;…gt;. Se se pensa assim lt;…gt;, não se pode deduzir que somos livres e responsáveis, não se pode deduzir que somos iguais, e não se pode deduzir que somos pessoas nem que temos uma dignidade inalienável. De fato, o materialismo científico está destruindo a cultura jurídica e moral. lt;…gt; Estamos em pleno ataque à vida humana, nas questões bioéticas. Estão-se fazendo embriões para usos terapêuticos, porque pensam que o embrião – que é um ser humano – é só um pacote de células sem dignidade, como um cultivo celular qualquer”.

Pela mesma lógica materialista, um adulto ou um velho sem “razões” para viver (e a única “razão” que os materialistas podem admitir é o bem-estar, o prazer ou a utilidade prática), como igualmente um aleijado, um demente, um doente crônico, um ancião esclerosado…, não passaria de um pacote de células descartável. Basta chegar a um “consenso” para que a eutanásia propriamente dita (causar diretamente a morte, nesses casos) seja legal, seja considerada “eticamente correta” (na Bélgica, está autorizado fazer eutanásia – sem eufemismos, matar – crianças já nascidas com problemas de espinha bífida e outras malformações e doenças, às vezes mesmo sem autorização dos pais).

d) Mas é tanto ou mais grave o fato de que, desde há muitos anos, essa mesma tendência aniquiladora da ética vai ganhando terreno no campo cristão, católico, teológico. As “novas morais” proporcionalistas, conseqüencialistas, de “opção fundamental”, etc (ensinadas por anos a fio em muitos centros católicos), contribuem fortemente para que “as coisas do mundo” – a começar pela vida humana – se virem de costas para Deus.

Como diz João Paulo II na grande Encíclica Veritatis splendor: “alguns chegaram a teorizar uma completa soberania da razão no âmbito das normas morais relativas à reta ordenação da vida neste mundo ; tais normas constituiriam o âmbito de uma moral puramente «humana», isto é, seriam expressão de uma lei que o homem autonomamente daria a si próprio, com a sua fonte exclusiva na razão humana” (n. 36). “Dizem eles que o homem, como ser racional, não só pode, mas até deve decidir livremente o sentido dos seus comportamentos” (n. 47). A leitura pausada e refletida dessa Encíclica ajuda a entender a situação moral e os problemas graves de inúmeros católicos – pessoas e famílias – atuais.

Neste sentido, os seguidores desses erros recusam-se a admitir a validade universal e permanente dos Dez Mandamentos e da doutrina do Magistério da Igreja no âmbito da ética sexual e matrimonial, nas questões de bioética, e em muitas outras (cfr. n. 47). Daí, as investidas agressivas (alimentadas por milhões de dólares) das “católicas pro-choice”, das abortistas (várias delas professoras titulares de Universidades Católicas), dos grupos gay católicos, as defesas constantes e cerradas do divórcio, da admissão à comunhão dos divorciados e recasados, das relações sexuais pré-matrimoniais, e até das diversas formas de aborto direto (defesa feita até por “teólogos”, “religiosas”, etc.).

2. Guardadores da Criação

Depois do que vimos, pode-se entender a enorme responsabilidade de custodire, de “guardar” a Criação de acordo com o plano de Deus Criador, expresso na lei eterna – que é simplesmente o desígnio da Sabedoria divina sobre a Criação, a Vontade de Deus sobre o homem e o mundo que Ele criou–, que Deus condescendeu em deixar bem clara, em seus pontos fundamentais, nos Dez Mandamentos; o homem tem, pois, a missão de guardar a Criação de acordo com a lei natural, que é “participação da lei eterna na criatura racional” (São Tomás).

a) A respeito do homem como criatura de Deus, lemos, por exemplo, na Encíclica de João Paulo II Evangelium Vitae, n.76: “O Criador confiou a vida do homem à sua solicitude responsável, não para que disponha arbitrariamente dela, mas a guarde com sabedoria e a administre com amorosa fidelidade”. E, no n. 75: “Os mandamentos de Deus ensinam-nos o caminho da vida”, todo o horizonte do bem são expressão da Vontade amorosa de Deus, e indicam o seu plano para a nossa plena realização. Ver também o Catecismo da Igreja Católica, ns. 1954 e seguintes.

b) Isto – como bem se percebe – desperta a consciência sobre a responsabilidade de lutar por guardar zelosamente o plano de Deus sobre o bem do ser humano, tanto o bem pessoal como o bem social. Só a Sabedoria divina pode iluminar a razão humana sobre o caminho moralmente certo. Como diz a Encíclica Veritatis splendor, n. 35: “Deus, que é o único bom (cf. Mt 19, 17), conhece perfeitamente o que é bom para o homem, e, devido ao seu mesmo amor, o propõe nos mandamentos”. “Os dez mandamentos – frisa o Catecismo, n. 2070 – ensinam-nos a verdadeira humanidade do homem”.

c) Daí a grandíssima importância de que os leigos adquiram uma formação profunda e completa em Fé e Moral. Hoje, os pastores da Igreja, ou os educadores e formadores leigos ou religiosos, não podem ficar satisfeitos dentro da sua “bolha eclesial”, ou seja, tendo, na paróquia ou na comunidade, no colégio, nas associações e movimentos, etc., grupos fervorosos de fiéis, que rezam, freqüentam a Eucaristia, preparam celebrações excelentes, fazem reuniões maravilhosas…, mas tudo dentro da bolha, sem se abrirem à responsabilidade de ser, cada um no seu ambiente em meio ao mundo (família, profissão, ambiente social, ambiente cívico), uma verdadeira tocha de luz para guardar e defender a verdade da Criação, da Lei divina, atacada por todos os lados, de modo cada vez mais aberto, arrogante e agressivo pelo laicismo dominante e pelas falsas teologias do “hedonismo cristão”.

Não se pode contemplar o espetáculo só com um cântico piedoso na boca e uma medalha no pescoço. É preciso sair à luta, com fé e espírito positivo – cada qual com os meios honestos ao seu alcance – para defender o esplendor da verdade, hoje constantemente abafado, combatido ou deturpado. Deve-se incentivar e articular uma ação positiva de formação muito séria, uma orientação de atuação cívica (em organismos de classe, com reivindicações aos políticos, às empresas, à mídia; com cursos especializados a cargo de gente de categoria; com livros e artigos bem feitos e de sólido pensamento, com cartas aos jornais e televisões, etc). Os católicos “praticantes” que não assumem essa responsabilidade – com coragem humilde mas militante – no próprio coração do mundo (como pede a Const. Lumen gentium e todo o Magistério pós-conciliar), esses católicos são os “novos beatos”.

d) Isso deve fazer pensar muito a todos os que são responsáveis pela formação cristã dos fiéis comuns, dos leigos. Será que esses responsáveis (em paróquias, comunidades, movimentos, associações, colégios religiosos, etc.) têm o preparo doutrinal e cultural à altura dessa tarefa? Não será precisa uma revisão muito profunda do que muitos ainda entendem (sem terem consciência do que as circunstâncias atuais exigem) por “formação católica”, por “catequese”, por ensino da “doutrina”? Não podemos ficar numa espécie de ilusão imatura: as circunstâncias atuais pedem uma formação muito séria de muitos leigos responsáveis (quantos mais, melhor), cristãos comuns que não fiquem na piedade emotiva (ainda que “a arte da oração”, de que fala a Novo millennio ineunte, seja sempre o mais importante, básico, imprescindível), mas que acordem para o dever de conhecer a fundo os critérios relativos à lei divina natural, especialmente nos campos do matrimônio, família, sexualidade (e aí entra a moda, o namoro, a santidade da vida conjugal) e de bioética (que são os campos mais violentamente deturpados hoje em dia).

Neste sentido, é necessário preparar bem – vale a pena insistir – cursos, ciclos de catequese, programas de conferências com especialistas de bom critério, etc., para dar uma formação de altura, completa e detalhada, sobre os temas de que trata a III Parte do Catecismo da Igreja Católica: o que é o homem, a liberdade, a moralidade dos atos humanos, a consciência, as virtudes e os pecados, a justiça social, a Lei moral, a graça (de que se fala tão pouco!), e cada um dos Dez Mandamentos; além dos documentos do Magistério, e do emprego de catecismos mais breves – agora o magnífico Compêndio do Catecismo da Igreja Católica –, e outras obras doutrinais fiéis ao Magistério autêntico da Igreja.

3. Colaboradores de Deus Redentor

a) Este tema exigiria, por si só, uma exposição muito ampla, que abordasse desde o apostolado no íntimo da família até a consecratio mundi pela santificação do trabalho e das realidades temporais (temas aprofundados de maneira seriíssima nas obras de São Josemaría Escrivá). Baste agora dizer que, ao tratarmos desses temas, passamos da ordem da natureza (da lei natural) à ordem da graça (a justificação e asantificação).

b) Por isso, também é preciso que os que têm o encargo de dar formação católica saibam assumir a responsabilidade perante a meta que foi lembrada pelo Concílio Vaticano II e recordada com força por João Paulo II na Carta apostólica Novo millennio ineunte, ns. 30 e seguintes: “Em primeiro lugar, não hesito em dizer que o horizonte para que deve tender todo o caminho pastoral é a santidade”. E o Papa acrescenta (n. 31): “É hora de propor de novo a todos, com convicção, essa «medida alta» da vida cristã ordinária”.

É possível que muitos se tenham contentado com fazer crescer a vida litúrgica, as “reuniões” de diversos tipos, os grupos de oração e as obras de caridade (coisas todas muito importantes), mas que, no campo da ética, da moral, das virtudes, tenham ficado, sem reparar, num panorama de “mínimos” (frases como “pode fazer, não é pecado!”, são o máximo que muitos orientadores sabem dizer!); tenham ficado como que amedrontados, acocorados perante o ambiente pagão do mundo, que afeta e desorienta profundamente os católicos, e continuem temerosos de exigir onível cristão de vida interior, de formação permanente, de apostolado pessoal, de castidade e de fidelidade, que é necessário que os leigos responsáveis possuam (que todos possuam!). Ora, isso será impossível se não se puxa para uma forte vida de oração, como acabamos de lembrar pouco acima (Novo millennio ineunte, ns. 32 e segs.), de freqüência de Sacramentos (vendo a importância absolutamente insubstituível da Confissão auricular freqüente e da Comunhão, mas não da Comunhão sem Confissão auricular freqüente, erro que é a fonte atual da maior anemia espiritual dos católicos!), nem se puxa para as alturas das virtudes cristãs teologais e morais. Será que já reparamos que o Papa João Paulo II pôs, freqüentemente, como modelo da grandeza da exigência moral do cristão o martírio: morrer antes que pecar?

c) É preciso, pois, ultrapassar essas linhas mínimas, medrosas, nada evangélicas. E ajudar os católicos a deslanchar, com alegria, segurança e coragem, no caminho doapostolado na família, do apostolado no seu próprio ambiente e no coração da sociedade, do mundo. Esta é a primeira coisa que Deus e a Igreja lhes pedem: não trabalharem só junto das saias da túnica do padre e nos recantos das sacristias, mas no lar, na rua, no escritório, na oficina, no clube, no sindicato, nas organizações de classe, na mídia, no ambiente do esporte, na vida pública, etc. Cfr. Lumen gentium,ns. 34-36; Christifideles laici, caps. III e V, etc.

d) Creio que um resumo, simples e maravilhoso, dessas responsabilidades é o que fazia São Josemaria Escrivá no n. 301 do livro Caminho, e que nos pode servir para terminar:

Um segredo – Um segredo em voz alta: essas crises mundiais são crises de santos.

Deus quer um punhado de homens “seus” em cada atividade humana. – Depois…«pax Christi in regno Christi» – a paz de Cristo no Reino de Cristo”.