Maria: causa da nossa alegria – Scott Hahn

Protestantes fundamentalistas por vezes afirmam que os católicos superestimam a importância da Santa Virgem. Mas foi a própria história – a história da salvação – que deu a ela um papel de destaque. Foi o Senhor da história que a escolheu para cumprir esse papel em seu enredo.

A fala de Maria no Evangelho de São Lucas indica que ela é bem mais do que uma personagem coadjuvante. Há um momento decisivo da história da redenção no diálogo entre ela e o Anjo. Ali, os céus aguardavam sua resposta. A Igreja desde então ecoa sua prece, conhecida como «Magnificat»:

A minha alma glorifica o Senhor
E o meu espírito se alegra em Deus, meu Salvador.
Porque pôs os olhos na humildade da sua serva:
De hoje em diante me chamarão bem-aventurada
todas as gerações.
O Todo-Poderoso fez em mim maravilhas:
Santo é o seu nome.
A sua misericórdia se estende de geração em geração
Sobre aqueles que o temem.
Manifestou o poder do seu braço
E dispersou os soberbos.
Derrubou os poderosos de seus tronos
E exaltou os humildes.
Aos famintos encheu de bens
E aos ricos despediu de mãos vazias.
Acolheu a Israel, seu servo,
Lembrado da sua misericórdia,
Como tinha prometido a nossos pais,
A Abraão e à sua descendência para sempre.
(Lc 1, 46-55)

Maria de Nazaré deu à Igreja – e a cada cristão – um modelo de oração para agradecer e louvar. Um modelo de oração para o Natal. Ela ensinou o mundo a responder de forma apropriada ao Deus que fez sua morada entre os homens, que fez sua morada na carne da Virgem e na nossa.

São Lucas apresenta a Virgem de Nazaré como ícone da liberdade e da dignidade humana. Não há servilismo em sua conduta. Ela se «perturba» com a presença do Anjo, mas, ainda assim, ousa fazer uma pergunta. Sua obediência é ativa e inteligente.

A tradição louva Maria como «Virgem da Ternura», e, de fato, ela nos inspira esse sentimento. No entanto, os versículos do «Magnificat» também nos mostram uma fidelidade incondicional. Essa é uma qualidade que
Deus cultivou em Israel, e que possibilitou a alguns fiéis remanescentes preservar a sua fé mesmo sob o exílio e
a opressão.

Todas as qualidades de Maria são graças de Deus. Nela vemos a graça num grau extraordinário por causa da maneira como Deus a preparou para a sua vocação única.

Mas a teologia católica afirma que a graça se apoia na natureza humana. O Deus que nos criou é o mesmo Deus que nos redime e nos chama. Por isso, é perfeitamente correto encarar o «Magnificat» de Maria como uma janela através da qual podemos vislumbrar sua infância e sua juventude. O Rei Davi, antepassado da Virgem, foi pastor de ovelhas antes de ter sido pastor de Israel. A lealdade de Maria, seu conhecimento sobre a história de Israel, sua fidelidade à lei de Moisés, sua reverência ao Templo, seus hábitos de oração, louvor e gratidão: tudo isso presta tributo à sua família de origem, bem como ao tempo que ela passou nos átrios do Senhor durante a infância.

Embora suas falas diminuam de volume depois do nascimento de Jesus, Maria segue sendo personagem expressiva do Evangelho. Permanece ao lado de Jesus, o que está perfeitamente de acordo com a sua personalidade. A jovem mulher que ousara questionar um Anjo viria a se tornar a mulher que mais tarde seguiria seu filho, aquele que não tem onde repousar a cabeça (Mt 8, 20).

Essa é a ternura e a tenacidade que Deus semeou, viu e amou em Israel (sua esposa, seu rebento, seu primogênito). Essas são as características que Deus dá como graça e que Ele ama em sua família na terra, a começar por sua mãe.

 

Trecho retirado do livro A Alegria do Mundo, de Scott Hahn.