OS PAPAS SÃO INFALÍVEIS.

O historiador Moisés Nazario comenta a leitura de “Infalíveis”, de Mike Aquilina, e a realidade da infalibilidade papal.

 

OS PAPAS SÃO INFALÍVEIS. Proclamado há 155 anos pelo Concílio Vaticano I, o dogma da infalibilidade papal, embora já intuído pela Igreja há muitos séculos, gerou intensas controvérsias. Já durante o concílio, os debates foram acalorados, e ainda hoje há quem tenha dificuldade em aceitar a ideia.

Quer dizer, então, que um Papa nunca erra? Quer dizer que Alexandre VI, com seus escândalos públicos e sua corte marcada por intrigas e pecados, era também infalível?
Sim, era. Não por ser irrepreensível em sua vida privada ou exemplar em suas decisões, mas porque, mesmo com suas muitas falhas, nunca comprometeu o Depósito da Fé.
Para compreender a ideia da infalibilidade, é preciso entender exatamente do que se trata. Segundo a constituição apostólica Pastor aeternus, que a definiu, os papas são assistidos pelo Espírito Santo quando falam ex cathedra sobre questões de fé e moral.
Na prática, é uma situação raríssima. A infalibilidade somente se aplica quando o Papa, falando como pastor supremo da Igreja universal, define formalmente uma doutrina de fé e moral e estabelece que todos os fiéis devem crer nela.

Quanto a todo o resto, o Papa não é infalível. Ele pode se equivocar em uma entrevista, pode tomar decisões erradas ao lidar com política internacional, pode ser um mau administrador e cercar-se de maus auxiliares, pode agir com injustiça e até cometer crimes – são falhas que decorrem do simples fato de ser um homem como qualquer outro. Mas, quando se trata de resguardar a fé apostólica, Deus se encarrega de impedir que ele erre, conforme a promessa de Cristo a Pedro: “as portas do inferno não prevalecerão”.
Isso explica um fato extraordinário: nesses dois mil anos de história, as tempestades das perseguições, dos cismas e das heresias sacudiram a Igreja e, por vezes, bispos e patriarcas vacilaram – mas a Sé de Roma manteve-se inabalavelmente ortodoxa. Pode ter sido mal servida por papas pouco dignos, mas nunca traiu
a fé recebida dos Apóstolos. Temos uma linha inquebrantável de fidelidade que não depende da virtude pessoal do pontífice, mas da assistência de Deus.

Sabemos que, entre os 266 sucessores de Pedro, nem todos foram bons papas. Entre eles, houve alguns de luminosa santidade, como São Leão Magno, São João Paulo II e São Pio V. Mas também houve aqueles cuja simples lembrança é constrangedora, como Alexandre VI e Bento IX. Ainda assim, mesmo eles mantiveram intacta a doutrina católica, pois a Igreja não repousa na perfeição de seus ministros, mas na promessa de Cristo.
Quem contempla com atenção esse fio ininterrupto de ortodoxia, atravessando séculos de crises, só pode reconhecer aí a mão de Deus. Nenhuma instituição meramente humana resistiria assim.
Essa é a beleza do livro Infalíveis, do historiador americano Mike Aquilina. Ele percorre os altos e baixos do papado, mostrando papas santos e papas indignos, mas sempre com o mesmo resultado: a fé nunca se perdeu, a despeito dos crimes de Alexandre VI, dos pecados de Bento IX e das hesitações de Libério e Vigílio.

O autor resgata episódios da história da Igreja e enfoca momentos em que a ortodoxia pareceu estar por um fio – mas sem nunca se perder no final. Aquilina revela, assim, a lógica profunda da promessa de Cristo. Ler Infalíveis é confirmar, uma vez mais, a certeza de que Deus faz surgir o bem mesmo por meio das ações
de homens frágeis e indignos.

CONHEÇA INFALÍVEIS, DE MIKE AQUILINA

A leitura deste livro é como uma lenta caminhada a contemplar, numa catedral de Roma, uma sucessão de retratos, os retratos de doze ocupantes do trono de Pedro — a começar por ele próprio. Leem-se aqui as histórias de doze Papas, entre santos e controversos: grandes pontífices antigos e modernos, como São Leão e São João Paulo II; Papas cercados pela difamação do mundo, como Pio XII, e também Papas francamente corruptos, como Alexandre VI, o Papa Bórgia. O que saltará aos olhos, porém, é justamente como, apesar da vida individual do ocupante desse posto, a cátedra se mantém infalível, em cumprimento da promessa do Senhor e confirmando a assistência permanente do Espírito Santo. Mike Aquilina, um dos maiores
especialistas na história da Igreja, é capaz de nos mostrar aqui como o Papa é sempre o homem mais notável do mundo, não por ser quem é, mas por causa daquilo que é — o Vigário de Cristo, a cabeça visível da Santa Igreja Católica

 

O AUTOR

Mike Aquilina é autor e editor de mais de setenta livros, sendo considerado um dos grandes especialistas norte- americanos na história da Igreja, especialmente no período patrístico. Ao lado de Scott Hahn, é cofundador e atual vice-presidente executivo do St. Paul Center for Biblical Theology, centro de pesquisas localizado em Ohio.