111 Perguntas sobre o Islã | Samir Khalil Samir | Junho, 2017

Os atentados terroristas de autoproclamados guerreiros de Allah, os frequentes conflitos no Oriente Médio, os fluxos migratórios e a presença de milhões de muçulmanos na União Europeia são fenômenos que contribuíram para aumentar o interesse pelo Islã, sua cultura e seus fiéis. Também suscitam perguntas novas e velhas sobre uma realidade que é, ao mesmo tempo, religiosa, cultural e política, e com a qual se identificam mais de um bilhão e meio de pessoas em todo o mundo.

Como nasceu o Islã? O que representa o Alcorão para os muçulmanos? Que relação há entre o Islã e a violência, entre a cultura islâmica e o Ocidente? Como conseguir uma integração autêntica nas sociedades ocidentais? Quais são as condições que podem permitir um encontro construtivo entre cristãos e muçulmanos?

A tudo isso responde Samir Khalil Samir, um dos principais especialistas nos temas islâmicos em escala internacional. O leitor tem em mãos um livro-entrevista que lhe permitirá conhecer e formar a sua opinião sem preconceitos nem ingenuidades. É uma contribuição marcada pelo realismo e destinada a construir formas adequadas de convivência com esses homens e mulheres que se transformaram em nossos novos vizinhos.

Autor: nascido em Cairo (Egito) em 1938, é sacerdote jesuíta, teólogo, islamólogo e professor do Pontifício Instituto Oriental de Roma. Fundou e dirige o CEDRAC, um centro de documentação e pesquisas árabes cristãs, e é presidente da Associação Internacional para Estudos Árabes Cristãos. Foi professor visitante na Universidade do Cairo, na Sophia University (Tóquio), na Georgetown University de Washington, nas Universidades de Graz (Áustria), de Belém (Palestina) e de Turim (Itália). É autor de dezenas de livros sobre o Islã e o Oriente cristão.

 

Confira o sumário e o primeiro capítulo

 

SUMÁRIO

Introdução

I. Os fundamentos
Maomé e o nascimento do Islã
O Alcorão, a palavra «incriada» de Deus
Cinco pilares para uma crença

II. O Islã pode mudar?
Unidade e pluralidade
A autoridade religiosa e o núcleo de representação
Jihad: guerra santa ou luta espiritual?
Tradição e modernidade

III. O desafio dos direitos
Charia e direitos humanos
A condição feminina
A liberdade religiosa e o caso da apostasia
Uma provocação: a reciprocidade

IV. O Islã entre nós
Islã europeu ou Europa islamizada?
O papel dos conversos
Minaretes da Itália: as solicitações ao Estado
A mesquita, uma igreja muçulmana?
Quatro modelos para a integração

V. O Islã e o cristianismo: o encontro inevitável,
o diálogo possível
O Islã e as outras religiões
Jesus e Maomé: dois profetas?
Negando o fingimento, reafirmando o amor pela verdade
Cronologia do Islã
As comunidades muçulmanas nos diversos países

Glossário

 

INTRODUÇÃO

Este livro é fruto de uma série de longos colóquios entre um islamólogo de prestígio internacional e dois jornalistas que há muito tempo se dedicam aos temas do Islã e da convivência entre homens de crenças e culturas diversas. Não pretende apresentar de maneira exaustiva uma realidade multifacetada e complexa como é a do mundo muçulmano, mas busca responder de maneira original a uma série de questões que há muito tempo são de interesse da opinião pública e que assumiram um peso ainda maior depois do atentado às Torres Gêmeas de Nova York em 11 de setembro de 2001 e do posterior conflito no Afeganistão.

Há um grande desejo de conhecer um mundo que, embora ao longo dos séculos já tenha se cruzado com o Ocidente, dentro e fora de seus limites, ainda é visto com a suspeita e a desconfiança que derivam ao mesmo tempo de um conhecimento superficial da história e de uma reação emotiva aos acontecimentos atuais.

Para quem, como a maioria dos ocidentais e muitos italianos, vê a religião como algo que pertence às dimensões espirituais da existência, o Islã parece um fenômeno novo e em alguns aspectos incompreensível, pois se propõe como din wa dunya wa dawla [1] – «religião, sociedade e Estado» –, incorpora o âmbito privado e público em uma só grande realidade, e em torno dela reúne todos os fiéis da umma, a comunidade à qual pertencem 1,2 bilhões de pessoas. Uma realidade certamente heterogênea e variada, mas que também apresenta muitos traços comuns do ponto de vista ritual, bem como na sua visão de mundo e nos modelos de comportamento que propõe.

O itinerário seguido pelo livro parte do contexto histórico e cultural em que o Islã surgiu e a partir do qual iniciou sua expansão, pois um conhecimento elementar desses aspectos é, nos dias de hoje, fundamental para entendê-lo em sua complexidade. As seções seguintes abordam algumas questões cruciais com que os muçulmanos depararam ao longo dos séculos e com as quais continuam a se confrontar ainda hoje: a interpretação dos textos sagrados, os direitos humanos, a questão feminina, a liberdade religiosa, a violência, a relação com a modernidade e com o Ocidente. As duas últimas seções examinam os problemas ligados à presença da comunidade muçulmana na Europa e na Itália e as perspectivas de uma convivência entre cristãos e muçulmanos: uma convivência que se constrói deixando de lado tanto os preconceitos quanto a ingenuidade que nos últimos anos marcaram o debate sobre a integração social e o diálogo inter-religioso.

A convivência é um edifício difícil de ser construído, seja por aqueles que falam a mesma língua e compartilham os mesmos valores, seja (com mais razão) entre os que pertencem a mundos diversos, embora limítrofes. Uma condição necessária (ainda que insuficiente) para aprender a conviver é se dispor a conhecer o outro, uma aventura que muitas vezes nos obriga a olhar no espelho e redescobrir a consistência da própria identidade. E é justamente entre essas duas margens – o conhecimento do outro e a redescoberta da própria identidade – que se situa idealmente o trabalho do Centro de Estudos para o Ecumenismo, por meio do qual este livro nasce e se reconhece.

Quem atua como guia nessa «exploração» do universo islâmico é Samir Khalil Samir, jesuíta, egípcio com cidadania italiana, cuja bibliografia acadêmica e científica nos dá uma ideia de sua grandeza intelectual. Samir nasceu no Cairo em 1938 e estudou na França e na Holanda; atualmente vive em Beirute, onde dá aulas em diversas faculdades da Universidade Saint-Joseph e onde fundou o Cedrac (Centre de Documentation et de Recherchers Arabes Chrétiennes). Foi visiting professor na Universidade do Cairo, na Sophia University de Tóquio, na Universidade de Graz na Áustria, na Universidade de Belém na Palestina e na Universidade de Turim. Organizou e dirige a coleção «Patrimoine Arabe Chrétien», editada primeiro no Cairo, depois em Beirute e da qual, desde 1978, foram publicados treze volumes. É codiretor da revista de orientalismo Parole de l’Orient, publicada no Líbano e na Itália, e idealizador e diretor (desde 1994) da coleção «Patrimonio Culturale Arabo Cristiano». É presidente da International Association for Christian Arabic Studies e autor de cerca de vinte livros e quinhentos artigos científicos sobre o Islã e o Oriente cristão.

Essa é apenas uma parte do longo e variado currículo de Samir Khalil Samir, mas se enganaria quem pensasse estar diante de um estudioso que olha o objeto de suas pesquisas com o desinteresse típico do intelectual refinado. Observando sua personalidade, vemos que o conhecimento do assunto está sempre acompanhado da paixão pelo homem, do desejo de conhecer a verdade que reside em cada pessoa e que o estudioso é capaz de descobrir e valorizar. E isso ocorre em razão de seu vínculo com um povo que faz parte da história e que continua a ser, ainda hoje, cruzamento de culturas e de crenças: o mundo árabe cristão, um mundo que guarda a memória de uma convivência secular com o Islã, cheia de contrastes e adversidades, mas não desprovida de aspectos positivos. E justamente essa memória pode representar um precioso recurso para muitos daqueles que hoje, no Ocidente, se perguntam de que forma é possível construir uma convivência com os muçulmanos que deixaram seus países de origem.

A essas perguntas, Samir Khalil Samir fornece respostas que às vezes podem soar «impopulares» ou então distantes da versão popular que veio se afirmando ao longo dos anos, mas que nascem tanto do profundo conhecimento da tradição e da mentalidade islâmica quanto da familiaridade com o contexto italiano, adquirida durante suas inúmeras estadias nesse país.

O modelo adotado, em forma de entrevista, possibilita agilizar a exposição dos argumentos, preservar o tom coloquial e enriquecer as respostas com algumas histórias que pertencem à «movimentada» biografia do autor, do qual se procurou manter também o tom e a expressividade típicos de sua terra e sua gente. Mesmo sabendo que os argumentos expostos mexem com os ânimos e dividem a opinião pública, não quisemos mascarar ou enfraquecer as provocações adotando um certo modo «politicamente correto» de entender as relações entre culturas e crenças diversas: este livro foi feito com a intenção de dar condições para que nossa relação cresça, não para preservá-la em moldes fossilizados.

Conscientes dos limites de nosso trabalho, esperamos ter colocado à disposição de um público abrangente – e não apenas de um grupo de especialistas – um instrumento útil para conhecer e ir de encontro a uma realidade à qual pertencem aqueles que nos últimos anos se tornaram nossos novos «vizinhos».

Giorgio Paolucci e Camille Eid

 


 

[1] Optou-se nesta edição por uma transliteração simplificada dos vocábulos árabes, sem sinais diacríticos ou outras indicações que não pertencem ao português. (N. do E.)

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