“Vede: que faz José, com Maria e com Jesus, para seguir o mandato do Pai, a moção do Espírito Santo? Entrega-lhe todo o seu ser, põe a sua vida de trabalhador ao seu serviço. José, que é uma criatura, alimenta o Criador; ele, que é um pobre artesão, santifica o seu trabalho profissional, coisa de que os cristãos se tinham esquecido por séculos, e que o Opus Dei veio recordar. Dá-lhe a sua vida, entrega-lhe o amor do seu coração e a ternura dos seus cuidados, empresta-lhe a fortaleza dos seus braços, dá-lhe… tudo que é e tudo o que pode: o trabalho profissional ordinário, próprio da sua condição” [1].
São José trabalhou para servir ao Filho de Deus e à sua Mãe. Nada sabemos do produto material de seu trabalho, nem nos chegaram os objetos que terá fabricado ou consertado; mas sabemos, sim, que sua tarefa serviu à obra da Redenção. José ensinou a Jesus o ofício a que se dedicou por longos anos de sua vida, e trabalhou profundamente unido a Quem, já nestes momentos, redimia-nos. Com seu trabalho, edificou o lar de Nazaré onde Jesus havia de crescer, lar que é imagem da Igreja. Nunca descurou a família por causa do trabalho de artesão, nem pelo cansaço da jornada. Antes: pôs esse trabalho inteiramente ao serviço do filho de Deus e da Virgem Maria e não lhes privou das atenções próprias do chefe de família. E o seu trabalho, longe de se ver empequenecido pelas exigências que lhe impunham essas atenções – viagens, mudanças de país e de domicílio, dificuldades e perigos – viu-se infinitamente enriquecido.
Que grande lição para quem facilmente se deixa fascinar pelo desejo de afirmação pessoal e pelo êxito no trabalho! A glória de São José foi ver crescer Jesus em sabedoria, em idade e em graça (cf. Lc 2, 52), e servir à Mãe de Deus. As horas de esforço continuado do Santo Patriarca tinham rosto. Não terminavam numa obra material, por mais bem-feita que estivesse, mas sim no bem de Jesus e de Maria. Eram o conduto para amar a Deus no Filho e em sua Mãe.
Deus nos deu também a possibilidade de descobri-lo e amá-lo servindo à família com a nossa tarefa profissional. Muitas pessoas colocam fotografias de seus entes queridos na mesa ou no lugar de trabalho, e o cristão põe também algo que lhe recorde o sentido divino do amor humano: às vezes um crucifixo ou uma imagem da Sagrada Família, ou outro recordatório oportuno segundo o lugar em que se encontre, porque se há amor a Deus, há também união entre família e trabalho.
Dá pena ver pessoas interiormente divididas, sofrem inutilmente. As obrigações familiares lhe parecem um obstáculo para crescer profissionalmente. Tratam de conciliar uma multidão de compromissos, e se lamentam de que não têm tempo para a família. Mas, muitas vezes, não é tempo que lhes falta, mas sim um coração ordenado e enamorado. O exemplo de São José pode nos ajudar a todos. O cuidado da Sagrada Família e o trabalho de artesão não eram âmbitos incomunicáveis, mas uma mesma realidade. O amor a Maria e a Jesus o levava a trabalhar, e com seu trabalho servia à Sagrada Família.
[1] São Josemaria Escrivá, meditação “San José, Nuestro Padre y Señor” (19.3.1968). Citado por J. M. Casciaro, “La encarnación del Verbo y la corporalidad humana”. Scripta Theologica, 18, 1968, págs. 751-770.
Fonte: Javier López Díaz, Trabalhar bem, trabalhar por amor. Quadrante: 2017.