Do estudo à amizade com Cristo: como ler o Novo Testamento em profundidade.

São Josemaria Escrivá costumava incentivar com frequência a leitura do Evangelho e do Novo Testamento. O perigo que ronda, no entanto, o historiador que, como eu, dedicou tantos anos à pesquisa da história da composição e transmissão do texto bíblico é cair numa leitura fria, protocolar e técnica. E talvez, este não seja um perigo que ameasse somente os historiadores, biblistas e exegetas, mas a todos aqueles que tentam se aproximar do Novo Testamento.

É por isso que a leitura do Novo Testamento deve ser uma leitura meditada, que sirva para conhecer Jesus profundamente e, consequentemente, acabe se tornando uma das essências da nossa vida interior. Como o próprio São Josemaria Escrivá dizia, ao ler o Evangelho, deveríamos ser “um personagem a mais”, alguém inserido na história, que estivesse a contemplar a misericórdia divina e o mistério da salvação, que se desenrolam diante dos nossos olhos. Ele dizia ainda que essa leitura deveria ser diária e constante, e que cinco minutos bem-feitos e bem meditados seriam suficientes para conhecer a Cristo e começar a desenvolver uma amizade profunda com ele, a ponto de que pudessem dizer de nós “Este lê a vida de Jesus Cristo” (Caminho, 2).

Mas aqueles que já tentaram perseverar nesse conselho de São Josemaria Escrivá com certeza já esbarraram em dificuldades e incertezas: passagens dos Evangelhos cujo contexto é difícil de ser entendido, ou cujo conteúdo teológico é muito profundo, ou ainda, dúvidas sobre a historicidade do que está escrito – afinal, quase dois mil anos separam os autores do Novo Testamento de nossos dias – e, por fim, livros inteiros que são muito  profundos e cheios de simbolismos, como o Apocalipse.

Sorte a nossa que a tarefa de superar estes obstáculos pode ser facilitada pela leitura complementar de outros livros. Os lançamentos da Editora Quadrante sobre o Novo Testamento comentados aqui são exemplos disso. Obras escritas por grandes autores, com conhecimento do assunto, que são, ao mesmo tempo, elaboradas
numa linguagem acessível ao grande público. Obras que certamente ajudarão o leitor a entender melhor diversos aspectos do Novo Testamento – em particular dos Evangelhos e do Apocalipse – e a perseverar e se aprofundar na tarefa de conhecer a Cristo e se tornar “um personagem a mais”.

Em O que são os Evangelhos, Geraldo Morujão – autor conhecido da Quadrante por conta de várias obras já publicadas – nos apresenta um guia acessível para a compreensão dos Evangelhos. O autor explica de forma breve e compreensível o conteúdo e a estrutura dos Evangelhos, seu valor histórico – para dissipar as dúvidas em relação à sua autenticidade e veracidade – e termina com conselhos práticos “para uma leitura correta e proveitosa” (p. 81), enfatizando, por exemplo, a importância de se escolher uma edição confiável da Bíblia, aprovada pelas autoridades eclesiásticas competentes.

Do mesmo autor, temos Apocalipse: um guia de leitura para hoje, que apresenta um manual de leitura de um dos livros mais densos e complexos do Novo Testamento, elucidando o significado de diversas simbologias do Apocalipse, sanando questionamentos, desfazendo ambiguidades e removendo obstáculos para a compreensão da mensagem deste texto. Ao mesmo tempo, nunca é demais frisar, diante de tantas interpretações equivocadas que circulam por aí, o autor nos oferece um comentário do Apocalipse em harmonia com o Magistério e a Tradição da Igreja.

Outra obra da Editora Quadrante que é certamente uma ajuda valiosa para a compreensão do Novo Testamento – dessa vez, novamente dos Evangelhos em específico – é Páginas difíceis do Evangelho. De autoria de D. Estêvão Bettencourt – possivelmente o maior teólogo brasileiro do séc. XX – este livro ajuda a compreender melhor, por exemplo, o gênero das parábolas, ferramenta constantemente usada por Jesus em sua pregação, mas que, por vezes, pode causar dúvidas no leitor contemporâneo. Assim sendo, o autor comenta parábolas como a da figueira amaldiçoada e dos operários da vinha – dentre outras – oferecendo critérios seguros para uma interpretação correta que seja, ao mesmo tempo, aplicável aos tempos atuais.

Por fim, cabe um breve comentário a respeito do livro que trata de um dos assuntos mais intrigantes do Novo Testamento: o Anticristo! No livro O Anticristo: mito ou profecia, Michele Dolz e Paulo Franciulli tratam desse assunto, que despertou paixões e desconfiança nos cristãos ao longo da História. Partindo da análise do famoso afresco do pintor renascentista italiano Luca Signorelli, os autores analisam esse personagem que “abalaria e desviaria os fiéis, suplantando aparentemente o Messias; por um breve momento, pareceria ter a vitória, mas o triunfo definitivo de Cristo, no final dos tempos, acabaria por desmascará-lo” (p. 11). Desde o imperador Nero, não faltaram tentativas de identificar o Anticristo com personagens reais que perseguiram cristãos ou foram profundamente impiedosos ou iníquos. Mas todos eles se foram, passaram, e a Igreja permaneceu, sempre renascendo das cinzas, ressuscitando como o próprio Cristo. Não seria diferente agora, com as ameaças atuais, como o relativismo e o laicismo progressista.

Diante da riqueza do Novo Testamento e da oportunidade de lê-lo com profundidade para conhecer a Cristo, é essencial buscar não somente o conhecimento técnico e histórico próprios de um historiador, mas principalmente, o fundamento do cristianismo: a amizade com Cristo. A ajuda de obras que são ao mesmo tempo bem fundamentadas e acessíveis, como as citadas acima, permite ao cristão superar dificuldades e incertezas e, de fato, se tornar “um personagem a mais” no desenrolar da História da misericórdia divina e da salvação.

Entrevista com Julio Cesar Dias Chaves

Julio Cesar é Historiador pela Universidade de Brasília, mestre e doutor em ciência das religiões pela Université Laval (Canadá). É professor de grego e de História da Igreja no Seminário Arquidiocesano de Brasília e na Faculdade de Teologia da Universidade de Brasília.

 


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