Os mistérios da Fé (Por Jorge Loring)

Na nossa Santa Religião, há alguns mistérios que são incompreensíveis para o curto entendimento humano: cremos neles porque nos foram revelados por Deus. E Deus não nos ensina falsidades.

No cristianismo, há alguns mistérios que são incompreensíveis para o limitado entendimento humano, o que não significa que sejam contrários à razão, como às vezes se apregoa.

Um cristão crê nessas verdades porque sabe que foram reveladas por Deus, e Deus não nos ensina falsidades. Os filósofos e os teólogos demonstram que esses mistérios da fé, apesar de ultrapassarem o entendimento humano, não contradizem a razão, isto é, não são coisas impossíveis ou absurdas. Assim o afirmou, por exemplo, o Concílio Vaticano I.

Acontece com os mistérios de fé o mesmo que ocorre com muitos outros conhecimentos: usamo-los continuamente, embora não saibamos explicá-los até o fim. Assim, na Física, o magnetismo oferece-nos não poucos mistérios: “As equações de Maxwell, embora portentosas, não são capazes de dizer o que são o magnetismo e a eletricidade, mas como se comporta a matéria quer magnética, quer eletricamente” (1). Da mesma forma, ninguém sabe o que é a luz; ela é definida como “agente físico que torna visível os objetos”, mas a sua natureza continua a ser desconhecida e a sua ação precisa de nada menos que três teorias para ser explicada, teorias que além disso estão longe de harmonizar-se logicamente: a teoria corpuscular de Newton, e teoria ondulatória de Huygens e a teoria do corpúsculo com onda associada de Schrödinger. A natureza da luz, porém, é bastante misteriosa.

O mesmo ocorre com a gravidade, a atração mútua entre as massas. Desconhecemos a sua natureza. O próprio Newton, que expressou esta atração em uma fórmula matemática simples, confessou com simplicidade que conhecia as leis da atração, mas não sabia a sua essência (2).

A Física só nos fala de fatos. Nada nos diz a respeito da essência das coisas e das suas últimas causas.

Há verdades que se conhecem por demonstração, por exemplo que os ângulos do triângulo somam cento e oitenta graus. Outras, porém, só se podem conhecer pelo testemunho de uma autoridade, como o mistério da Santíssima Trindade.

A vida está cheia de mistérios. Como então podemos estranhar que eles também existam num Deus infinito que extrapola totalmente a nossa capacidade intelectual? Nem a imensidão do mar cabe em nossos olhos, nem a de Deus no nosso entendimento. Se Deus coubesse no nosso entendimento, seria limitado, e assim deixaria de ser Deus, pois Deus tem que ser infinito.

Disso decorre que não podemos conhecer a Deus por inteiro, com uma ciência adequada e perfeita. Seria absurdo crer que só pode ser verdade o que cabe no nosso pequeno entendimento. Quando cremos nos mistérios da fé, fazemos um ato de humildade reconhecendo que Deus sabe mais que nós.

Niels Bohr, um dos primeiros cientistas a descobrir a estrutura do átomo, discutindo com Einstein, que também tinha fé, disse-lhe: “Não é nem deve ser tarefa nossa dizer a Deus como Ele deve reger o mundo” (3).

Algumas pessoas deixam-se levar por um excesso de racionalismo que rejeita tudo o que supera a razão. Os mistérios não são exclusividade da religião nem são obstáculo para crer. Assim como nas ciências, quando não compreendemos algo, fiamo-nos do que dizem os entendidos, em matéria de religião devemo-nos fiar do que Deus nos diz na sua Revelação, ainda que nosso entendimento não consiga compreendê-lo totalmente. Afinal, também as formigas são incapazes de compreender um jogo de xadrez, e no entanto o xadrez é uma realidade.

Na Física, há coisas inexplicáveis, mas nem por isso o Físico deixa de lado o seu estudo; e na Medicina existem casos sem solução, mas nem por isso o médico cessa de praticá-la. Da mesma forma, na Religião há coisas que superam o nosso entendimento, mas devemos fiar-nos em Deus, que no-las comunica.

É como aquele menino da África equatorial que nunca tinha visto o gelo e por isso não acreditava quando um missionário lhe dizia que, no frio, a água às vezes fica tão dura que um homem pode andar sobre ela sem afundar. O menino não tinha condições de compreender como isso poderia acontecer; mas considerasse o missionário digno de confiança e conhecedor do que afirmava, confiaria nele, e com isto acertaria, por mais que o seu entendimento não compreendesse essa verdade. Acontece o mesmo conosco; precisamos aceitar com confiança os mistérios revelados, ensinados por Deus através da Igreja, divinamente assistida por Ele. “Creio firmemente no que não vejo, porque creio nAquele que tudo vê” (Bossuet).

Assim, ainda que seja muito bom buscarmos as razões da nossa fé, não cremos nas verdades reveladas por nos parecerem razoáveis, mas sim porque nos fiamos da Ciência e da Veracidade de Deus, aceitando confiadamente tudo o que Ele nos diz.

Por outro lado, no céu, entenderemos claramente todos os mistérios que agora não compreendemos…

(1) Pedro Lain Entralgo, Alma, Cuerpo, Persona, 2º. vol., Ed. Galaxia. Barcelona, IV, 5, 1.

(2) Ian G. Barbour, Problemas de Religión y Ciencia, Sal Terrae, Santander, 1ª, III, 1.

(3) Werner Heisenberg, Diálogos sobre Física Atómica, BAC, Madrid, VI.

 

Fonte: Encuentra.com
Tradução: Quadrante

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