Namoro e casamento

O amor não conhece limites temporais. Por isso, é natural que os enamorados queiram assumir um compromisso recíproco forte e definitivo, diante de todos, no qual vão oferecer-se um ao outro numa doação de amor total.

A IMPORTÂNCIA DO NAMORO
O período preparatório para o casamento tem o objetivo imprescindível de construir o entendimento espiritual necessário que será a base para uma relação sólida e duradoura. Mas não é só isso.
Se é verdade que amar significa querer o bem do outro, e se também é verdade que querer o bem significar ajudar o outro a realizar-se como ser humano – isto é, como indivíduo livre e responsável – na harmonia de todas as suas faculdades, é lógico pensar que, no período do namoro, cada um dos dois aprende a encarregar-se do outro, do verdadeiro bem do outro, para além dos impulsos instintivos e do desejo de uma satisfação imediata. Em outras palavras, cada um deles aprende a ser responsável pelo autêntico crescimento do outro. Daí as delicadas atenções recíprocas e os amáveis carinhos, típicos de quem sabe que tem nas mãos algo precioso.
E, de fato, o namoro é um período verdadeiramente de ouro, que deve ser valorizado ao máximo. Ainda não há as responsabilidades da vida quotidiana a dois e, portanto, toda a atenção se concentra na alegria da contínua descoberta recíproca. É um tempo de espera ansiosa por algo que ambos sabem que um dia experimentarão plenamente, mas que já percebem como sagrado e inviolável, porque tem a ver com um mistério que fascina, mas que também incute respeito. É o tempo das emoções tanto mais intensas quanto mais delicadas: em que basta a doçura de um olhar para ruborizar-se, o roçar de uma mão para fazer o coração bater loucamente… Sensações maravilhosas, puríssimas, comovedoras, das quais só pode desfrutar quem não se abandona ao turbilhão dos sentidos antes do tempo.
É também nesta época que se começa a notar que uma renúncia feita a dois torna a relação muito mais profunda. Enfim, o namoro constitui uma autêntica escola de vida.
Mas o namoro também é um tempo de projetos, do planejamento concreto da futura vida familiar, da escolha de critérios comuns e da convergência para os mesmos objetivos.
Então, é evidente que aqui entra em jogo não só a esfera da afetividade, mas também a esfera da racionalidade; e é necessária toda a racionalidade para que os sentidos fiquem serenos!
Só um percurso desse tipo conduzirá de forma natural os dois jovens, dia após dia, a amadurecer o irresistível desejo – mais ainda: a irrefreável necessidade – de assumirem finalmente um compromisso recíproco forte, definitivo e feito diante do mundo todo, no qual vão oferecer-se um ao outro numa doação de amor total.
Compreende-se que haja quem chame este compromisso de casamento!

O CASAMENTO, SELO DO AMOR
Já sinto nos ouvidos um clamor de protesto: “Que necessidade temos de nos casar?! Não basta morarmos juntos e conviver?!” E a resposta é imediata: “Um momento: somos, por acaso, puros espíritos?” Se fôssemos puros espíritos, então sim; bastaria um simples ato da vontade, expresso pelos dois, e a decisão seria incontestável, definitiva e irrevogável.
Acontece que não somos puros espíritos. Somos também um corpo, que, como tal, se submete às leis da matéria. Portanto, situado no espaço, o corpo está sujeito à força da gravidade que o puxa para baixo, e, situado no tempo, está sujeito à deterioração, que o faz decair progressivamente. Por isso, a livre decisão tomada pelos dois tem necessidade de um apoio adequado, isto é, exige que seja firmada e ratificada por um ato material; e, além disso, são necessárias testemunhas que confirmem que esse pacto foi realmente celebrado.
Precisamente por ser matéria, o corpo exige sinais materiais, tangíveis: não basta a intenção. Por acaso o primeiro conhecimento da realidade não vem através dos sentidos corpóreos (a camada mais externa…)? Quem, aliás, se comprometeria numa relação de trabalho sem exigir que se estipulasse e se assinasse um contrato regular? Ficaria contente apenas com promessas verbais?
É claro que o contrato compromete, vincula. Mas é justamente este o seu sentido: recordar às duas partes a decisão tomada em conjunto, com plena consciência e liberdade – sob pena de nulidade do próprio contrato – e, por isso, com plena responsabilidade por parte de ambos (o binômio liberdade-responsabilidade…), com tudo o que a responsabilidade comporta.
Talvez haja quem se aborreça de ouvir falar de um contrato a propósito do amor, que é o que de mais livre pode existir no mundo, tanto que, se não for livre, nem sequer é amor! Mas, vale a pena recordar que a liberdade – a verdadeira – não é ausência de qualquer vínculo –seria uma liberdade absoluta, que não é própria do ser humano! –, mas é sempre um saber vincular-se à coisa certa, chegando assim à realização de um bem (a verdadeira liberdade…). E que bem maior pode existir para o amor senão o da sua própria perpetuação?!
Mas, e as testemunhas, para quê? Explica-se. O amor é um fato privado, mas os seus efeitos são um fato público, social. Fica constituída uma nova célula da sociedade, que passa a interagir com as outras. A sociedade, tal como a humanidade, não é um ente abstrato: tanto uma como a outra são fruto da somatória de muitas unidades elementares. Uma nova unidade – uma nova família – enriquece a sociedade e diz respeito a todos os seus membros. Esta é a função das testemunhas, quer sejam amigas dos noivos ou não, embora a amizade as torne idôneas para apoiar o casal nos inevitáveis momentos de crise… A função delas é, precisamente, atestar perante a sociedade inteira o nascimento de uma nova célula no seu seio.
Não há dúvida de que paramos de falar de amor quando reivindicamos o direito à união livre – porque então não há a vontade de comprometer-se de verdade, mas sim de deixar aberta uma fácil via de fuga (sob o pretexto que também o casamento pode dissolver-se).
O amor, por natureza, não conhece limites temporais. Quem ousaria dizer à pessoa amada: “Vou amá-la até 19 de fevereiro de 2008…”? E quem quereria ser amado dessa maneira? Pelo contrário, ressoa imperioso o “Vou amá-la para sempre!”. É a exigência de eternidade própria do amor. Acaso não continuamos a amar os nossos amigos e parentes falecidos, mesmo que a ausência do contato físico faça os sentimentos desaparecerem com o tempo? (O amor não é só um sentimento…). Aliás, o fato de deixarmos lembranças nos corações daqueles que amamos não exprime esse desejo, essa tentativa de eternização, para além da morte? Por fim, não é verdade que todos os problemas da humanidade são, no fundo – como já vimos no início –, problemas de amor, de amor satisfeito em todas as suas exigências?
Pois bem: é realmente necessário ensinar aos jovens que o amor é exigente. Ou não é amor.
É necessário educar os jovens para o amor.

Por: Leda Galli Fiorillo

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