11 Conselhos para ensinar os filhos a pensar

Por Luis Olivera

Aprende a pensar aquele que pergunta sempre, que sai da jaula das modas, que se atreve a inventar problemas e a pensar sobre si mesmo, sobre a vida, sobre tudo.


1. Em primeiro lugar, é preciso agir conforme a verdade das coisas: ensinar os filhos a não se enganarem, a serem sinceros, a agirem com coerência. “Podemos conhecer a química cerebral que explica o movimento de um dedo, mas isso não explica por que esse movimento é usado para tocar piano e não para apertar um gatilho” (Marcus Jacobson). E também “não podemos baratear a verdade” (F. Suárez), rebaixando o seu valor, como se fosse uma liquidação.

2. Um segundo ponto é que “o treinamento é um privilégio da inteligência humana” (José Antonio Marina). É preciso enriquecer a linguagem, é preciso estimular o diálogo, o exercício mental de raciocinar, de defender uma causa, de ter argumentos para as próprias decisões, e não somente fazer o que fazem os outros, como os bois no pasto. Aprender a pensar é descobrir como é grande o poder da moda sobre o mundo inteiro, e saber sair da jaula em que a moda pode encerrar-nos. O pensador livre – ou seja: o pensador – não deve sacrificar a sua liberdade no altar da moda. Sacrificar a verdade no altar da moda é uma das perversões mais nocivas para um pensador… E no entanto é excessiva a frequência com que a razão fica presa na jaula da moda. Treinamento e cultivo, porque “a terra que não é lavrada, trará abrolhos e espinhos, ainda que seja fértil. Assim sucede com o entendimento do homem” (Santa Teresa de Ávila).

3. Já que é impossível não se equivocar nunca, pelo menos por utilidade e por dever temos de aprender com os nossos enganos: se quisermos aprender a pensar, deveremos descobrir o mundo tão humano do erro. “Errar é humano”, diziam já os antigos. O erro é o preço que o animal racional tem que pagar.

4. Seremos mais inteligentes e mais livres quando conheçamos melhor a realidade, quando saibamos avaliá-la melhor e quando sejamos capazes de abrir mais caminhos novos. Seria um erro pensar – observa Leonardo Polo – que o homem inventou a flecha porque tinha necessidade de comer pássaros. Também o gato tem essa necessidade, e o ilustre felino nunca inventou nada. O homem inventou a flecha porque a sua inteligência descobriu a oportunidade escondida no graveto.

5. Manter aberta a nossa capacidade de dirigir a própria conduta mediante valores pensados. É preciso passar do regime do impulso irracional para o regime da inteligência. Mais do que ensinar a pensar, a função dos pais há de ser a de motivar os filhos para que queiram pensar por sua própria conta. Com atitudes positivas, as crianças topam qualquer parada; com atitudes negativas, pensar parece lhes uma coisa cansativa e agir parece lhes uma coisa medíocre.

6. Ensinar a tomar decisões. A inteligência é a capacidade de resolver problemas vitais. Não é muito inteligente quem não seja capaz de decidir, mesmo que dentro do seu refúgio isolado consiga resolver facilmente problemas de trigonometria. Se admitirmos que educar é essencialmente ajudar a crescer na liberdade e na responsabilidade, então aprender a decidir bem acaba sendo um dos aspectos chave nessa tarefa: quanto maior a capacidade de decisão, mais liberdade.

7. Devemos recuperar – e estimular – nas crianças a sadia estratégia de perguntar continuamente. As três perguntas fundamentais são: “O que é?”, “Por que isso é assim?” e “Como é que você sabe?” Aristóteles definia a ciência como “o conhecimento certo pelas causas”: portanto, é preciso habituar-se a perguntar os porquês. Os pais devem estimular, comentar e favorecer (criando o clima adequado) os hábitos intelectuais dos filhos.

8. A inteligência tem de saber aprender, mas sobretudo tem de desfrutar aprendendo. Trata-se de formular perguntas que levem à reflexão, a perguntar-se sobre o próprio pensamento: “Por que o homem pensa?”, “Você já pensou porque é que lembramos das coisas?” “Pensamos quando estamos dormindo?” “O que é que mais faz você pensar?” “Você pode pensar duas coisas diferentes ao mesmo tempo?” Leonardo Polo define o homem como um ser que não somente resolve problemas, mas que também os formula. Com efeito, o ser humano progride propondo a si mesmo novos problemas e tentando resolvê-los.

9. A inteligência deve ser eficazmente lingüística. Graças à linguagem, não somente nos comunicamos com os outros, mas também conosco próprios. A inteligência não se parece a uma coleção de fotografias, mas a um rio. Rio e inteligência “discorrem”. A nossa língua original – a língua materna – é um rio em que deságuam milhares de afluentes. “A pluma e a palavra são as armas do pensador” (J.A. Jauregui): aprender a pensar é aprender a tocar os instrumentos do pensamento: a pluma e a palavra.

10. Fomentar a leitura e controlar o uso da televisão. Já que estamos falando do vôo da inteligência, trata-se de “ser mais inteligentes que a televisão” (Jiménez). Os livros “tem de ser obras que alimentem a inteligência sem deixar o coração seco”, ou seja, devem “iluminar a mente com a verdade e não mergulhá-la nas névoas da dúvida ou na escuridão do erro” (F. Suárez).

11. Urge encontrar momentos para refletir, para pensar, coisa aliás muito menos trabalhosa do que muitas das necessidades que inventamos. Pensar sobre o sentido da vida, das coisas, do homem, de Deus. Quando Unamuno disse que costumava sair para passear com os pastores de ovelhas para aprender a pensar, para desprender-se dos preconceitos e dos dogmas de escola, muitos rasgaram as vestes. Unamuno, porém, estava sendo sincero. Um pastor de ovelhas tem tempo para pensar, para dar rédea solta à sua imaginação e para descobrir horizontes filosóficos que jamais foram vistos por nenhum outro pensador. Fernando Corominas diz que é preciso “instalar” na mente e no coração dos filhos as coisas boas antes que cheguem as nocivas. Esse “chegar antes” é educar pensando no futuro. Sempre que nos abandonamos, retornamos à selva. Essa selva de que falo metaforicamente é sempre uma claudicação da inteligência.

 

Fonte: Arvo.net

Tradução: Quadrante